O relógio, em deságio, resolve agora,
Repentino, voltar seu arpão
Para remotas eras
Em que eras
Mero eu-eunuco
A perguntar ao Senhor-de-todas-as-respostas:
— Tempo, tempo, tempo,
No entretempo entre a graça e a carcaça
Desta desvida de singelos nãos,
Qual é o tempo da verdadeira vida,
Aquela que se esconde nos desvãos?
Onde ela se expande se infiltra se verte
E se veste de lúcida nudez?
O que se faz para alcançá-la,
Se ela espalha seu alheamento
E se faz de besta e desembesta afora?
Responda, Senhor-de-todas-as-chaves,
Como conseguir dessa ser-vida a devida guarida
E que me guarde em suas leis,
Antes que ela me lance a um inexorável
Seiscentos e sessenta e seis?
Responde o tempo:
— Então é assim?
Perde-se de mim
Me gasta
Me converte em águas passadas
Reduz a folhas viradas o meu passar
Aperta meu passo
E manda tocar o bonde
Quer meu poder de cura
Mas não me deixa esquentar a cadeira
E agora… quer ajuda pra tocar nossa amiga vida?
Aham… você quer a minha volta, né?
Ah! Vai querendo!
Fique aí, quietinho,
No seu canto
Na sua miséria
Enquanto é tempo…