Para cima e para o alto

Confesso que, no fundo, eu estava meio triste de sair dali.

Queria ficar feliz, e chorei. Chorei prometendo a mim mesmo que aquela seria a última vez que choraria, que o cara assustado, medroso, ansioso, ficaria ali, internado e enterrado. Márcio, como sempre, adivinhando meus sentimentos, colocou o braço em torno dos meus ombros e ficou assim até chegarmos à portaria.

Do lado de fora, vi que eles já estavam lá. Pareciam calmos, mas isso seria impossível. Como lidar com um filho que fizera aquilo?

Ela veio de braços abertos, com o sorriso genuíno da mãe que tem o filho de volta, o filho que ela não entendia, mas que amava e defendia com a força dos desesperados.

Antes de me abraçar também, meu pai estendeu a mão para Márcio:

— Obrigado por tudo, doutor.

Esse tudo eram horas e horas me ouvindo, me ouvindo, me ouvindo… Acabei aprendendo a me ouvir também, e a tentar entender. E, entendendo, a tentar me perdoar.

Durante a ida para casa, era visível o esforço dos dois em aparentar normalidade, comentando sobre o tempo, o que haveria no almoço, o último jogo do Palmeiras. Se algum tempo atrás minha revolta ilegível taxaria isso de hipocrisia, naquele momento me parecia nada mais do que zelo e carinho.

Ao chegar, meu pai imitou o gesto de Márcio e abraçou meu ombro, dizendo, para mim e para ele mesmo:

— Vai dar tudo certo, filho!

Entrei em meu quarto e não pude evitar de assistir a um rápido filme em que o protagonista sofria em meio a um cenário de porta, janela e cortinas fechadas. Fui direto para a janela e apressadamente a abri, deixando entrar o sol ainda morno da manhã. Em seguida, tirei um por um todos os pôsteres que haviam me acompanhado ladeira abaixo.

Por fim, sentei-me no chão, encostado na cama, de frente para a porta entreaberta, que começou a se mover lentamente. Olhei para cima, pensando em quem seria, o pai ou a mãe. Mas não eram eles. Num segundo, fui atacado por uma montanha de pelos e patas que me fez rolar pelo chão.

— Calma, amigão! Eu voltei… calma, me deixa respirar!

Era Paco, o labrador que foi meu presente de aniversário de 10 anos. Apertei suas orelhas e encarei seus olhos espertos, vivos, cheios de energia.

— Não se preocupe, amigo. Já me decidi.

Decidi, sim, não chorar mais.

Pelo menos, vou tentar.

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